domingo, 14 de outubro de 2012

Os jovens e o Espiritismo


Mauro Karl:
“Conscientizemo-nos de que os jovens já são o futuro”

O confrade fluminense fala sobre a importância para o movimento espírita de eventos como a Confraternização de Mocidades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (COMEERJ)
 
 
Mauro Karl (foto), de Petrópolis-RJ, nascido em família espírita, é um dos colaboradores da União Municipal Espírita de Petrópolis, onde vem atuando há algum tempo na coordenação dos encontros locais e regionais de jovens espíritas, como, por exemplo, a COMEERJ, tradicional evento que reúne os jovens espíritas do Estado do Rio de Janeiro,
sobre o qual ele nos fala na entrevista que se segue.

Fale-nos um pouco sobre sua participação no movimento espírita e sua trajetória no Espiritismo.
A Providência Divina me concedeu a oportunidade de nascer numa família de trabalhadores do movimento espírita. Fui, por isso, evangelizando na infância e, como consequência natural, alcancei a evangelização juvenil, em que as sementes lançadas ao longo desta existência brotaram e encontrei no Evangelho à luz da Doutrina Espírita o caminho para minha vida, fornecendo-me ferramentas para o processo de aprimoramento de mim mesmo, ainda no início. Por tudo isso, me encantei com o trabalho de evangelização de jovens, que foi tão importante em minha vida, decidindo contribuir nesta seara. Surgiu a oportunidade de colaborar na mocidade da União Municipal Espírita de Petrópolis, onde fui e continuo sendo evangelizado, agora no trabalho. A partir daí, naturalmente, passamos a colaborar nos encontros de mocidade locais e regionais, dentre eles a COMEERJ do Polo II, com sede na cidade de Petrópolis.

A entrevista vai se focar na experiência da COMEERJ. Explique-nos, por favor, o que é a COMEERJ, sua origem, finalidade e importância. 
A Confraternização de Mocidades Espíritas do Estado do Rio de Janeiro (COMEERJ) é fruto da iniciativa de dedicados companheiros que na década de 1970 viajaram pelo país visitando encontros realizados em outros Estados e se materializou, inicialmente, sob o nome de COMES (Confraternização de Mocidades Espíritas da Cidade do Rio de Janeiro), no carnaval de 1978.  Em 1980 foi que recebeu o nome atual. A COMEERJ é uma oportunidade de vivência num campo experimental do mundo de regeneração, conforme traçado pelo Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro (CEERJ), nossa federativa estadual, durante o feriado do carnaval, obedecendo a cinco princípios: da confraternização, da espiritualização, da edificação do bem na Terra, da divulgação do Espiritismo e do investimento no potencial humano. Nesse encontro, jovens que frequentam regularmente as mocidades espíritas há pelo menos 2 anos se inscrevem por meio das instituições espíritas e, durante 4 dias, permanecem alojados, em geral em escolas públicas,degustando um mundo estruturado nos princípios do Evangelho, instrumentalizando-se para a transformação da sociedade onde vivemos.

Que fazem 200 jovens trancados em uma escola municipal nos quatro dias de carnaval? Por que querem eles voltar no ano seguinte?
Esta é uma pergunta que todo participante de COMEERJ ouve de seus colegas e familiares. Enquanto boa parte das pessoas se prepara para viagens e festas, os participantes da COMEERJ tentam explicar o lado bom de permanecer alojados com outras 200 pessoas, em média, numa escola pública, dormindo em colchonetes em alojamentos coletivos, tomando banho em vestiários, enfrentando fila para fazer suas refeições e, o que parece inexplicável, estudando durante a maior parte do dia. É difícil convencer aqueles que nunca participaram de algo semelhante que essa é uma experiência tão boa ou melhor do que as outras opções oferecidas nesse período do ano. De minha parte, quando convido os jovens, costumo dizer: - Participe pelo menos de uma COMEERJ em sua vida! É uma experiência a ser vivenciada e difícil de ser colocada em palavras, porque não é somente o que descrevemos acima. É muito mais! São momentos que ficam marcados em nosso íntimo pelas emoções e sentimentos despertados, não somente pelo que vemos nas fotos e vídeos e que guardamos na lembrança.

O que diferencia a proposta pedagógica da COMEERJ de outros tipos de atividades religiosas voltadas à juventude? 
Acredito que seja a oportunidade de vivenciar o Evangelho, num verdadeiro campo de treinamento para o mundo do futuro, regenerado. Temos 4 dias para despir a nossa insensibilidade, remover as barreiras que colocamos nas relações com o próximo, do nosso egocentrismo e encontrar no próximo um irmão, independente de onde vem, da classe social ou nível de instrução e outros rótulos que utilizamos rotineiramente para, juntos, nos sensibilizarmos, rir e chorar, modificando-nos para o resto de nossa existência como Espíritos imortais. Para alcançar esse objetivo, os trabalhadores da COMEERJ têm liberdade para criar atividades e aplicar diferentes métodos de sensibilização e conscientização, e dentre eles destaca-se a arte. Nesse processo, o jovem é visto como um Espírito que tem ampla bagagem de experiências, fruto de múltiplas encarnações, embora a pouca idade na existência atual. Desse modo, é convidado a participar ativamente do processo de evangelização na COMEERJ, no exercício do autoconhecimento e do amor ao próximo.

Arte, integração ou estudo. Como se dá a relação dessas grandezas na vivência da COMEERJ? Qual a mais importante? 
Todas são utilizadas como instrumentos na evangelização do Espírito e são igualmente importantes. Cada um de nós se afiniza com um ou mais desses instrumentos, sendo despertado pela razão, pela emoção ou pelo encontro de Deus no próximo. Portanto, o equilíbrio no uso desses meios de trabalho é uma das razões do sucesso do evento quanto ao cumprimento dessa missão.

Como conciliar disciplina e liberdade em um encontro com mais de duzentos jovens durante quatro dias? É muita responsabilidade, não? 
Sim, a responsabilidade é grande. Os pais conhecem bem os desafios de educar e disciplinar seus filhos no lar. Imaginemos isso num grupo grande e diversificado de jovens. Daí a importância dos critérios adotados na inscrição, já citados. Espera-se que os jovens entendam que a COMEERJ não é uma colônia de férias, nem um retiro, que tem objetivos claros e compromissos com a espiritualidade superior, de quem somos apenas operários voluntários de boa vontade. Sendo assim, os coordenadores têm a obrigação de manter a ordem e a disciplina, exigindo o cumprimento das “normas de ação” traçadas pelo CEERJ, que incluem vestimenta decente, evitar palavreado chulo e ofensivo, respeitar os horários, entre outros. Aliada à proposta educativa da COMEERJ, compartilhamos a responsabilidade pela disciplina com os jovens, que colaboram na manutenção do ambiente físico e moral. Com isto a disciplina se instala sem supressão da liberdade, com base no respeito ao semelhante e a si mesmo, num exercício cristão de cidadania.

Fale-nos um pouco sobre a experiência do Polo II-Petrópolis, os avanços, a colheita e os casos típicos. 
O Polo II da COMEERJ, com sede em Petrópolis, completou 25 anos em 2012. Neste longo período de tempo, muitos jovens e trabalhadores beberam nessa fonte, recebendo a semeadura em seus corações. Mas cada semente e cada terreno tem seu tempo para dar frutos. Pessoalmente, reconheço que ter participado do grupo dos Pequenos Companheiros (das crianças filhas de trabalhadores) até o grupo Tarefeiros do Bem (última etapa dos confraternistas) teve importância crucial para meu despertar para o entendimento da profundidade da mensagem cristã à luz da Doutrina Espírita e para ingressar no trabalho no movimento espírita e, portanto, no trabalho do Bem. Do mesmo modo, encontramos lideranças do movimento espírita que despertaram seus potenciais na COMEERJ. Mas, não só isso. Antigos confraternistas, mesmo que distanciados do movimento espírita, se tornam pessoas de bem, cidadãos honestos, que contribuem para o mundo melhor que se avizinha, passando da juventude para a maturidade de maneira segura e responsável.

Qual o efeito da COMEERJ no movimento das juventudes no município? 
A COMEERJ não tem o objetivo de amealhar seguidores para o movimento espírita, mas ajudar na formação do homem de bem, na vivência intensa e representativa de uma nova ordem de experiências cristãs. Naturalmente, a COMEERJ faz com que os jovens encontrem na Doutrina Espírita muito mais do que uma religião ou uma filosofia, e sim uma mensagem para a construção da felicidade e para o enfrentamento dos desafios da vida. Isso os desperta para a beleza da mensagem do Cristo e, consequentemente, reforça os vínculos com a Instituição e o movimento espíritas que lhe proporcionaram a oportunidade de passar por essa experiência ímpar em sua vida.

Jovens de outros estados participam da COMEERJ? Fale-nos um pouco dessa experiência. 
A unificação do movimento espírita também ganha, e muito, com reflexos no trabalho federativo estadual, regional e local. A integração entre jovens de diferentes cidades e estados amplia a nossa percepção do que vem a ser “fraternidade universal”, possibilitando o enriquecimento das experiências pelo somatório das contribuições e trocas efetuadas. Tivemos notícia de que em 2012 o CEERJ convidou companheiros do movimento espírita uruguaio, que participaram de um dos polos, mostrando que a COMEERJ pode ir além das fronteiras fluminense e brasileira.

O que você pensa da frase ”O tema é a espinha dorsal da COMEERJ”? 
O tema possui importância fundamental para que os 19 polos trabalhem em uníssono, sem uniformização. As coisas são resolvidas nas reuniões gerais em que representantes de todos os polos podem se pronunciar. Nasce o tema geral que é encaminhado para todas as comissões de estudo, com um planejamento dividido em módulos, acompanhado de sugestões bibliográficas, em que cada polo tem autonomia para trabalhar, resultando numa riqueza e diversidade de abordagens, produções artísticas e resultados muito interessantes e promissores.

Jovem espírita que vai a COMEERJ vira um adulto espírita diferente?
Sem dúvida! As razões, acredito, já tenham sido expostas nesta entrevista.

Fale um pouco da atuação da espiritualidade na COMEERJ. 
Percebemos a sua ação desde o planejamento, na intuição e inspiração, quando ideias semelhantes ou complementares surgem de pessoas distintas e se unem para a confecção de atividades e para transpor desafios que se apresentam durante a construção do encontro. Mas, muitas vezes, os verdadeiros coordenadores desse trabalho atuam de forma mais ou menos ostensiva nos sonhos e em comunicações em reuniões mediúnicas onde há participantes do evento. Diante disso tudo, não há como nos sentirmos desamparados, nem mesmo acreditarmos que somos donos da tarefa, pois bem sabemos que esta pertence a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Terminando a nossa breve entrevista, que sugestões você dá aos evangelizadores e trabalhadores de federativas que atuam na área da juventude? 
Que continuemos trabalhando e nos aprimorando no cumprimento da nobre tarefa da evangelização neste país escolhido para que a árvore do Evangelho dê frutos para toda a Terra! Sim, entendemos e acreditamos na importância de eventos maravilhosos como a COMEERJ, mas estejamos atentos ao trabalho com a juventude espírita em nossas instituições, dando oportunidade aos jovens de se integrarem no trabalho do Bem na seara espírita, conscientizando-nos de que eles já são o futuro, como diz o benemérito Espírito Dr. Bezerra de Menezes.

Fonte: O Consolador

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