quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Xenoglossia nos EUA - O espanhol fluente de Reuen Nsemoh


O site da revista Veja publicou recentemente uma matéria, baseada numa matéria da rede televisão CNNum fato inusitado ocorrido nos Estados Unidos: um adolesceu voltou de um coma falando fluentemente espanhol e ao mesmo tempo estranhando seu idioma nativo, o inglês. Obviamente, o caso provocou um espanto geral. O que pode explicar tal fenômeno?

Kardec o explica facilmente. Mas vamos nos inteirar melhor do episódio.

O americano Reuben Nsemoh, de 16 anos, apenas sabia algumas palavras e frases em espanhol, apreendidas graças ao gosto por futebol (soccer, nos EUA) e o hábito de jogar videogame e acompanhar as notícias desse esporte, especialmente o campeonato espanhol (efeito Messi e Cristiano Ronaldo). Ele, aliás, goleiro de um time escolar, no Condado de Gwinnett, Estado da Georgia, acabou sofrendo um trauma após um choque físico durante uma partida. O chute bem na cabeça o deixou desacordado e o levou a um coma que durou por quase um mês.


Ao despertar do coma, Reuben só falava espanhol — com uma fluência de um autêntico nascido na Espanha — e pouco compreendia a sua língua de nascença: a língua inglesa. Segundo a reportagem, as "coisas foram voltando ao normal" gradativamente e cerca de um mês depois, lá estava o jovem falando o seu inglês e "esquecido" do vocabulário falado por Messi — exceção feita às poucas palavras e frases anteriormente apreendidas.

Segundo a hipótese ventilada pelos "especialistas", Reuben sofreria de uma síndrome rara, chamada de "síndrome do sotaque estrangeiro", em que danos cerebrais alteram os padrões de fala de uma pessoa, dando-lhe um sotaque diferente ou fluência em uma nova língua.


Mas, convenhamos, essa teoria é muito fraca, não? Por esses termos, um evento qualquer  como um chute no meio da testa  os neurônios podem sofrer um "distúrbio", uma desorganização, e recombinar informações a ponto de possibilitar que o indivíduo passe a maquinar coisas inteligentes como falar fluentemente um idioma desconhecido. Poderão eles dizer que, na realidade, o vocabulário que se apresentou tão bem organizado após o trauma já estava latentes no cérebro do rapaz. Ele deveria ter absolvido as palavras e frases em espanhol involuntariamente, assistindo TV, por exemplo, e ter registrado no seu subconsciente, ficando esse vocabulário latente. É como se alguém que tenha observado, por anos, um pianista executar seu instrumento, depois de um trauma qualquer, passasse a tocar as peças de Chopin — isso tudo, fruto de uma reorganização neuronal acidental.

É possível mesmo crer numa tese materialista como essa?



O fenômeno poliglota segundo o Espiritismo

Esse fenômeno, que consiste em expressar-se em língua estranha, foi analisado por Allan Kardec, durante seus estudos para a Codificação do Espiritismo.

Em sua segunda obra básica, O Livro dos Médiuns, o codificador atenta para o caso dos médiuns poliglotas, ou seja, "aqueles que têm a aptidão de falar ou escrever em línguas desconhecidas". Aqui, porém, Kardec fixa suas ideias em torno de uma manifestação mediúnica, quando há a incidência da participação de um Espírito que, então, transmite a mensagem e para tal fim ele vai tomar duas vias: a primeira, a mais comum, é a de pegar o vocabulário natural do médium: o Espírito transmite suas ideias em forma de pensamento (que não tem idioma) e essas ideias são então transcritas na língua que o médium conhece; na segunda possibilidade, o próprio Espírito pode imprimir no fenômeno a transcrição na língua que ele (Espírito) souber, a despeito de o médium conhecer ou não esse idioma. Nessa segunda via, o Espírito pode, por exemplo, escrever ou desenhar o que desenha transmitir, como alguém que fisicamente conduz a mão de outra pessoa. (ver Cap. XIX, item 223, perguntas 15 a 17)

No entanto, o caso do Reuben não sugere uma manifestação mediúnica, mas sim um animismo, qual seja, de a alma do jovem recobrar a capacidade de falar espanhol adquirida em uma de suas reencarnações, na Espanha ou em outro lugar onde tenha aprendido essa língua, como acontece com as crianças prodígios que revelam talentos extraordinários (por exemplo, ao piano), sem que tenham recebido instrução na atual encarnação. Esse fenômeno anímico é validado pela espiritualidade na pergunta 17 do referido capítulo em O Livro dos Médiuns, como segue:
17ª A aptidão de certos médiuns para escrever numa língua que lhes é estranha não provirá da circunstância de lhes ter sido familiar essa língua em outra existência e de haverem guardado a intuição dela?“É certo que isto se pode ocorrer, mas não é regra. Com algum esforço, o Espírito pode vencer momentaneamente a resistência material que encontra. É o que acontece quando o médium escreve palavras que não conhece na língua que lhe é própria.” 
Os Espíritos então confirmam que esse tipo de animismo pode acontecer, embora não consista uma regra e que o mais comum seja uma manifestação provocada por um agente espiritual, ou seja, por via mediúnica.

Mais tarde, esse tipo de fenômeno seria chamado de xenoglossia.


Xenoglossia

Pelo que sabemos, a palavra xenoglossia foi cunhada pelo médico fisiologista francês Charles Richet (1850-1935) que a formulou a partir dos termos gregos xeno = estranho + glossia = língua, idioma. Segundo Richet, trata-se de uma capacidade metapsíquica, ou seja, aquilo que está além do estado psicológico normal, capacidade essa provinda do ser espiritual, preexistente ao estado de alma encarnada.

A xenoglossia tem sido apreciada por muitos estudiosos e, para os não materialistas (que vão se valer da teoria da reorganização neuronal depois de um distúrbio, ocasionalmente originário de um trauma), consiste em uma das mais fortes evidências da sobrevivência da alma pós-morte e, por conseguinte, da lei de reencarnação, pois de outra maneira o cérebro não teria como "criar" acidental e aleatoriamente um processo inteligente como o de falar um idioma — coisa nada fácil, aliás.

O pesquisador italiano Ernesto Bozzano (1862-1943) escreveu em 1933 um livro sobre o tema, cujo título é justamente Xenoglossia, no qual ele revela o apurado de suas pesquisas sobre essa capacidade metapsíquica.

Um clássico caso de xenoglossia foi o de Íris Farczády, uma mulher húngara que em 1933, aos 16 anos, repentinamente sofreu uma mudança drástica de personalidade, reivindicando ser "Lúcia renascida", uma trabalhadora espanhola de 41 anos que teria morrido naquele ano. Assumindo a personalidade "Lúcia", Íris passou a falar espanhol fluentemente — uma linguagem que ela nunca tinha aprendido  e supostamente a não conseguir entender qualquer outro idioma.

Mais recentemente, fenômenos de xenoglossia foram seriamente estudados por renomados homens da ciência, como o psiquiatra canadense Ian Stevenson (1918-2007), autor do clássico Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação (Twenty Cases Suggestive of Reencarnation). Especialmente sobre xenoglossia, Stevenson publicou Unlearned Language: News Studies in Xenoglossy (Linguagens não aprendidas: novos estudos sobre xenoglossia). Um de seus principais discípulos, o psiquiatra Jim Tucker, professor da Universidade da Virgínia, EUA, é uma das mais brilhantes mentes científicas atuais a se debruçar sobre o tema, tendo relatado diversos casos em que crianças relembram vidas passadas, nalguns casos, com fluência em idiomas estranhos ao aprendizado da identidade atual, conforme se lê em seu livro Vida antes da Vida (Life Before Life: A Scientific Investigation of Children's Memories of Previous Lives).

Outro pesquisador sobre fenômenos anímicos e espirituais na atualidade é o psiquiatra nova-iorquino Brian Weiss. Em sua obra Muitos Corpos, Uma só Alma (Same Soul, many bodies), ele afirma ter submetido vários de seus pacientes a terapias de regressão de memória, adentrando reencarnações passadas, conseguindo que eles se expressem em idiomas daquelas vivências, diferentes da língua falada na presente encarnação. Portanto, produzindo a xenoglossia.


Xenoglossia bíblica

O mais popular e mais citado evento de xenoglossia é o ocorrido no dia de Pentecostes, conforme a narração bíblica. Diz o segundo capítulo do livro dos Atos dos Apóstolos (supostamente escrito por Lucas, o evangelista) que, cinquenta dias depois da ressurreição de Jesus (daí vem o nome pentecostes), os apóstolos estavam reunidos e se deu que "línguas de fogo" pousaram sobre eles e lhes encheram do "Espírito Santo", começando a falar em idiomas que eles não dominavam, mas que eram reconhecidos por expectadores a que os assistiam, que ficaram admirados por conseguir entender o que eles diziam em sua língua de origem.


Glossolalia

Segundo a Wikipédia, a xenoglossia se distingue da manifestação de glossolalia, que seria o fenômeno de expressar-se em língua estranha, mas, por sua vez, sem necessariamente o reconhecimento, de quem quer que seja, do significado da mensagem. É o que supostamente acontece em cultos fervorosos, como os frequentemente descritos em movimentos de igrejas pentecostais e de renovação carismática católica, que os religiosos chamam de "dom de línguas".

Em última análise, a Doutrina Espírita é clara e objetiva em defender que os chamados "fenômenos paranormais" — animismo (da própria alma) ou mediúnicos (por influência de um Espírito) —, exatamente por fugir do caráter dito "normal" de nosso cotidiano, há de ter sempre uma finalidade justa e precisa, seja para expiação, provação ou missão dos envolvidos. São esses fatos extraordinários que acabam por atrair consciências à natureza espiritual que, sem tais episódios, dificilmente seriam despertadas. Contudo, não basta ver, compreender e acreditar nas manifestações metapsíquicas e nem daí simplesmente deduzir a sobrevivência da alma além-túmulo e a lei de reencarnação: é preciso despertar-se para os compromissos espirituais. Se existe vida após a morte, se há uma ligação direta entre nossos atos do passados, do presente e do futuro, se há uma natureza espiritual etc., então cumpre-nos nos inteirarmos melhor sobre isso e, mediante os conhecimentos adquiridos acerca da espiritualidade, nos comprometermos com nossas obrigações espirituais. Para tanto, nenhuma doutrina melhor nos guia do que o Espiritismo de Allan Kardec.


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