quinta-feira, 30 de março de 2017

O histórico 31 de Março e a confusão comum entre Espiritualismo e Espiritismo


31 de março é considerada a data de aniversário do movimento conhecido como Espiritualismo ModernoModerno Espiritualismo, ou simplesmente Espiritualismo — movimento esse que, para nós, espíritas, tem uma relevância histórica imensurável, embora comumente ignorada e — o que é pior — passível de muita confusão.

A propósito disso, oferecemos nossas considerações.


O movimento espiritualista

Em síntese, o Espiritualismo é um movimento surgido em meados do século XIX, oriundo dos Estados Unidos, de onde foi exportado para a Europa e outros grandes centros urbanos no mundo inteiro. Foi pejorativamente chamado de necromancia moderna, porque suas sessões se compunham basicamente de consulta aos mortos sob os mais diversos interesses — incluindo a leitura da sorte, curiosidades de vidas passadas, revelação de segredos e divertimento com fenômenos físicos, ditos sobrenaturais, como batidas, movimento de objetos, levitação de médiuns e materializações de formas espirituais.

Sessão espiritualista de evocação de mortos

De fato, houve uma exploração espetacular daquela fenomenologia moderna, com inclusão de exploração financeira — o que deu ensejo a flagrantes charlatanismos e embustes. Contudo, em meio a essa banalidade, surgiram diversos esforços, de pessoas sérias, para estudar aqueles insólitos fenômenos e, sob a crença que a sua fonte provinha dos espíritos (daí a razão do nome
espiritualismo), propagar as ideias espiritualistas, especialmente a da imortalidade da alma, em oposição à ideia materialista.

Fenômeno das Mesas Girantes

Dessa maneira, o Espiritualismo foi um movimento generalizado, que resultou em muitas vertentes, dentre as quais algumas teses semelhantes em certos pontos e contraditórias noutros; algumas com caráter puramente científico (conceituadas academias e cientistas renomados se ocuparam com tal fenomenologia) e outras com feições mais religiosas, sem exclusão de seitas místicas.

Em suma, aquela onda de fenômenos espirituais do século XIX foi uma porta oportunidade para uma vasta gama de doutrinas e crenças, que frequentemente são — não raro, propositalmente — confundidas com a prática espírita.



Distinção entre Espiritualismo e Espiritismo

A confusão é grande e, algumas vezes, gera distorções de interpretação com prejuízo para ambos os lados. Mas, devemos admitir, inclusive, que o próprio codificador espírita deu margem a essa confusão ao deixar certa dose de ambiguidade quando da elaboração da sua tese doutrinária — o Espiritismo.

Allan Kardec, já no primeiro tópico da "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", que abre O Livro dos Espíritos (clique aqui para baixar) anuncia que aquela obra inaugura uma nova doutrina e para a tal ele faz uso de três neologismos (novos termos, que são aplicáveis a coisas novas):
  1. espiritismo (uma contração de espírito + ismo, doutrina = doutrina dos espíritos), que é a denominação daquela nova doutrina;
  2. espírita, adjetivo relativo a espiritismo e designação do praticante desta nova doutrina;
  3. espiritista, sinônimo de espírita.
Vamos ao que o codificador espírita explanou:
Para designar coisas novas são necessárias palavras novas. Assim exige a boa compreensão, para evitar a confusão que ocorre com as palavras que têm vários sentidos. Os termos: espiritual, espiritualista, espiritualismo têm uma definição bem definida, e acrescentar a eles nova significação, para aplicá-los à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar os casos de numerosas palavras com muitos significados. De fato, o Espiritualismo é o oposto do materialismo. Aquele que acredita haver em si alguma coisa além da matéria é espiritualista. Entretanto, isso não quer dizer que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível. Em vez das palavras espiritual, espiritualismo, nós usamos, para indicar a crença nos seres espirituais, os termos espírita e espiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido da raiz da palavra e que, por isso mesmo, apresentam a vantagem de ser perfeitamente compreensíveis, deixando ao vocábulo espiritualismo a significação que lhe é própria (...).
Pretendia o codificador espírita que o Espiritismo se distinguisse daquele  já célebre Espiritualismo Moderno? — Não. A ideia era unir forças; apenas era preciso sistematizar aquele esparso movimento espiritualista, tanto que, no mesmo parágrafo daquela Introdução, em O Livro dos Espíritos, Allan Kardec fez a descrição dos propósitos da nova doutrina nos seguintes termos:
(...) Diremos, pois, que a Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os espíritas, ou, se quiserem, os espiritistas.
De alguma forma, essa definição equipara Espiritismo e Espiritualismo, uma vez que ambos se fundamentam nas relações do mundo material com o plano espiritual. Essa equiparação fica melhor ilustrada em vários artigos da Revista Espírita, em que Kardec denomina o Espiritualismo de "Espiritismo Americano", destacando os diferentes escopos originários de cada qual, como no artigo "A escola espírita americana" (edição de maio de 1864):
Algumas pessoas perguntam por que a Doutrina Espírita não é a mesma no antigo e no novo continente, e em que consiste a diferença. É o que vamos tentar explicar. (...) O que particularmente distingue a escola espírita dita americana da escola europeia é a predominância, na primeira, da parte fenomênica, à qual se ligam mais especialmente e, na segunda, a parte filosófica.
De outra feita, o mestre lionês vai minimizar as diferenças (Revista Espírita - abril de 1869: "Profissão de fé espírita americana"):
Em que o Espiritismo americano difere, então, do Espiritismo europeu? Seria porque um se chama Espiritualismo e o outro Espiritismo? Questão pueril de palavras, sobre a qual seria supérfluo insistir. De um e do outro lado a coisa é vista de um ponto muito elevado para semelhante futilidade. Talvez ainda difiram em alguns pontos de forma e de detalhes, muito insignificantes, que se devem mais aos usos e costumes de cada país do que ao fundo da Doutrina. O essencial é que haja concordância sobre os pontos fundamentais, e é o que ressalta, com evidência, da comparação acima. (...) A única diferença consiste em que o Espiritismo europeu admite essa pluralidade de existências na Terra, até que o Espírito tenha atingido aqui o grau de adiantamento intelectual e moral que comporta este globo. (...) Poderá estar aí uma causa de antagonismo entre criaturas que perseguem um grande objetivo humanitário? (...) Em suma, como se vê, a maior barreira que separa os espíritas dos dois continentes é o Oceano, através do qual eles podem perfeitamente dar-se as mãos. 
Allan Kardec
Entendemos, hoje, a postura de Kardec. Conquanto precisasse distinguir o sistema espírita da generalidade do movimento espiritualista, ele — modesto que era, como é característico dos mais nobres missionários — de forma nenhuma pretendia fazer do Espiritismo uma instituição formal, nem nos moldes de uma academia oficial de ciências, nem numa igreja constituída. Ponderamos que ele supunha ver rapidamente as luzes da Doutrina Espírita clarear as mentes a respeito daquelas velhas crenças místicas e outras generalidades, dando forma a uma nova escola filosófica cujo título — Espiritismo, Espiritualismo, Cristianismo, Humanismo etc — pouca ou nenhuma importância poderia ter.

Como, na atualidade, vemos a persistência e a controvérsia das ideias e crenças — inclusive dentro dos grupos ditos espíritas —, sentimos a necessidade de caracterizar e aplicar os termos espiritismo, espírita e espiritista no que implica o corpo doutrinário kardecista (e eis porque em certas ocasiões precisamos adjetivar "espiritismo kardecista"). Assim, por exemplo, admitimos haver mediunidade dentro e fora do meio espírita. Por conseguinte, atribuímos o qualificativo "sessão espírita" somente àquela reunião que se paute nos princípios da codificação espírita, em que a mediunidade é empregada com lisura, com interesse nos valores espirituais e com a finalidade do bem comum. Desta maneira, desconsideramos admitir que seja do exercício espírita qualquer prática espiritualista, cujos objetivos e meios empregados estejam em contradição com os fundamentos científicos e morais propostos pela codificação espírita.


Zelo doutrinário

O nosso "zelo doutrinário" — muito criticado por aí — nos obriga alertar para a vulgarização da confusão acerca das ideias espiritualistas, de crenças generalizadas, em contraste com os fundamentos espíritas. Desta feita, convém pormos em evidência aqui a multiplicidade de obras literárias mediúnicas supostamente espíritas — inclusive supostamente mediúnicas.

Também é relevante pautarmos a diversidade de ideias que sorrateiramente penetram os centros espíritas, com especial atenção aos misticismos e sincretismo, ou seja, a mistura de ideias e cultos provindos de diversas doutrinas religiosas, sem contar os apelos do esoterismo e curandeirismos modernos, como nós podemos ver em certos manuais de autoajuda como de pseudoterapias.


Espiritualismo e a data histórica de 31 de março

Não percamos, porém, o ensejo da data histórica de 31 de março para reconhecermos o valor do movimento denominado Espiritualismo Moderno, que veio sedimentar a codificação espírita e sem a qual as ideias kardecistas — sob a inspiração da espiritualidade superior — não poderiam prosperar tal como se deu.

A casa da família Fox em Hydesville, EUA

Foi numa sexta-feira, a 31 de março de 1848, que teve início uma série de extraordinárias manifestações na modesta residência da família Fox, no vilarejo de Hydesville, Estado de Nova Iorque, EUA. Eram efeitos físicos, como batidas nas paredes, arranhões em móveis e movimentos de objetos materiais, semelhantes a muitas outras ocorrências de casas dito mal-assombradas, em diversas partes ao redor do mundo. Porém, a excepcionalidade deste caso vem das consequências desses fenômenos. As pessoas da casa, a começar pelas meninas Kate e Margaret, supondo se tratar de um Espírito — portanto, uma pessoa, mesmo que desencarnada —, procuraram interpretar o agente invisível e ali deram início a um diálogo interessante que resultou em uma sequência de sessões, para as quais foram desenvolvidos alguns sistemas de linguagem para estabelecer a comunicação mediúnica.

O caso teve grande repercussão na imprensa Americana, acabou por despertar grande interesse nas questões espirituais e tornar público os dons mediúnicos de outros tantos médiuns. As sessões de evocação de Espíritos virou moda na América do Norte, ganhou a Europa e se disseminou pelo mundo inteiro, como uma verdadeira febre, conhecida como Mesas Girantes. Foi esse fenômeno que ensejou o professor Rivail estudar o mecanismo das manifestações, o propósito filosófico e moral da mensagem que os Espíritos traziam e, com isso, adotar como missão a tarefa de codificar a nova doutrina, Espiritismo, que ele bem cumpriu, sob o pseudônimo de Allan Kardec.

As irmãs Kate e Maggie Fox

Por isso, o caso das irmãs Fox e a data de 31 de março é marcante para a história do Espiritualismo e também para o Espiritismo, sem desprezo aos seus precursores, com destaque para Swedenborg, Mesmer, Edward Irving e Andrew Jackson Davis. Assim é que o celebre escritor e cavaleiro real Sir Arthur Conan Doyle — criador do famoso personagem Sherlock Holmes — descreve este marco histórico:
É impossível precisar uma data para as primeiras aparições da força inteligente exterior, de maior ou menor elevação, influindo nas relações humanas. Os espiritualistas costumam tomar a data de 31 de março de 1848 como o começo dos acontecimentos psíquicos, pois suas próprias manifestações datam naquela data. Entretanto não há época na história do mundo em que não encontramos traços de interferências preternaturais e o seu posterior reconhecimento pela humanidade. A única diferença entre esses episódios e o movimento moderno é que aqueles podem ser apresentados como casos esporádicos de extraviados de uma esfera qualquer, enquanto os últimos têm as proporções de uma invasão organizada. (A História do Espiritualismo, Arthur Conan Doyle - Cap. 1)
Sem dúvidas, uma obra muito recomendada para que se conheça bem as origens do movimento Espiritualismo Moderno é o livro de Arthur Conan Doyle, intitulado A História do Espiritualismo, publicada em 1926, que, aliás, para o público brasileiro, é um exemplo peculiar da confusão comum que se faz entre as denominações espiritualismo e espiritismo: a primeira tradução, assinada por Júlio de Abreu Filho, sob o selo da Editora Pensamento, para o nosso português foi lançada como "A História do Espiritismo". Todo o conteúdo dessa versão troca Espiritualismo por Espiritismo e compromete a realidade dos fatos.

Agora, no entanto, dispomos de uma nova tradução, feita por Louis Neilmoris, com as devidas correções (clique aqui para baixar).

Enfim, a Humanidade tem uma riquíssima história de educação espiritual, que prossegue, inclusive, porque há muita estrada ainda por ser trilhada, que nos ao plano maior de Deus, para nossa conscientização intelectual e perfeição moral.

A título de curiosidade e, ao mesmo tempo, informação, 31 de março também aniversaria dois outros importantes eventos históricos para a causa espírita:

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Programa Evangelho no Lar Onine


Nesta quinta-feira, às 20h (hora de Brasília), tem mais uma edição ao vivo do Programa Evangelho no Lar Onlineo nosso encontro familiar com Jesus e toda a espiritualidade, para um momento de reflexão, aprendizagem e confraternização espiritual em torno da Boa Nova trazida pelo Mestre de Nazaré, à luz do Espiritismo.

As videotransmissões são feitas ao vivo via YouTube e você pode acompanhá-las pelo link do YouTube Live, pela página inicial do nosso Portal Luz Espírita.

Participe conosco e nos ajude na divulgação.

segunda-feira, 27 de março de 2017

Novo verbete da Enciclopédia Espírita Online: "Necromancia"


Quem não conhece o Espiritismo ou quem deliberadamente investe contra ele costuma equiparar a prática espírita com a necromancia.

Mas, você sabe mesmo o que é Necromancia?

Pois aqui vai uma dica muito sugestiva para refletirmos sobre o que sabemos e o que não sabemos sobre a chamada "arte de evocar os mortos para fazer adivinhação": a Enciclopédia Espírita Online acaba de ser atualizada com para a inclusão desse verbete, cuja síntese você vê a seguir:
Necromancia é conhecida como a arte de fazer adivinhação através da comunicação com os mortos (Espíritos desencarnados). A origem do termo vem do grego clássico: necro (νεκρός nekrós) = "morte" + mancia (μαντεία, manteía) = "adivinhação", que algumas vezes é traduzido como nigromancia. Por se considerar mesquinhos os interesses comuns que a motivam (desvendar segredos do passado e do presente, adquirir conhecimentos místicos, evocar proteção especial e obter profecias, leitura da sorte para o futuro etc.), a prática dessa arte é normalmente vista pejorativamente, por vezes associada ao ocultismo, à magia negra. à feitiçaria e, de certa forma, ao Xamanismo. Os médiuns e os praticantes espíritas em geral são eventualmente reputados pelos seus acusadores como necromantes, embora os fundamentos do Espiritismo façam uma evidente distinção de propósitos: enquanto a necromancia objeta valores de interesse da vida terrena, a mediunidade espírita se orienta conforme valores superiores, tais como a instrução intelectual e a motivação moral, em vista da evolução espiritual, bem como a confraternização e realce dos laços afetivos entre encarnados e desencarnados. Entre os métodos usados pela necromancia figuram-se a cartomancia, o tabuleiro ouija e o jogo de búzios.
O novo verbete aborda a relação entre a Doutrina Espírita e a necromancia tradicional, os tradicionais rituais necromantes, o princípio da comunicabilidade espiritual e o perigo da obsessão quando a atividade dessa arte não é observada pelos seus praticantes. Portanto, vemos que estamos tratando de algo muito relevante.

Clique aqui e acesse agora mesmo o verbete Necromancia em nossa Enciclopédia Espírita Online.

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segunda-feira, 20 de março de 2017

Centésima edição do Informe Luz Espírita


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Sobre o "fantasma do IML", o charlatanismo e o embuste



O fantasma do IML de Cuiabá

O vídeo que "viralizou" na internet brasileira este mês foi o descrito como "O fantasma do IML de Cuiabá", pelo qual assistimos duas pessoas (entendidas como guardas noturnos) adentrando um corredor (um deles é quem filma a cena, usando uma câmera de celular) e flagrando dois supostos fenômenos paranormais, a saber: 1) interferência na corrente elétrica na lâmpada do corredor, que pisca, acende e apaga irregularmente; 2) batidas fortes provocadas pela tampa da caixa de incêndio. Os "destemidos" seguranças se aproximam dessa caixa de incêndio e um deles teatraliza uma interjeição de espanto: "Ô, louco, meu! O que é isso?..." e o outro completa: "Sinistro!..."

Com a corrente de especulações que se fez, especialmente nas redes sociais, o caso foi um dos destaques da edição do programa televisivo Fantástico, da Rede Globo, na edição de ontem, 19 de março, dentro do quadro "Detetive Virtual".

Veja a matéria do Fantástico.

Enfim, a apuração feita foi que, para começar, o episódio não é ocorrido em Cuiabá, capital mato-grossense, mas em Araucária, interior do Estado do Paraná; também não é em uma dependência do IML, mas de uma escola ("para variar", uma escola abandonada). E os tais "fenômenos paranormais"? Tudo não passava de um truque. A lâmpada piscava pela manifestação física mais comum: a interferência de alguém apertando seguidamente o interruptor que acende a apaga a luminária. Já as batidas fortes na caixa de incêndio se davam por impulso manual, através de um fio de nylon, presa à ponta da tampa da caixa e correndo por trás de uma torneira, usada como uma polia. Nada de paranormalidade.

A reportagem não revela quem são os "atores" autores da "brincadeira". Em dado momento, aparecem Diego Carneiro (dito designer gráfico) e Junior Ferreira (dito fotógrafo) indicando o verdadeiro set de gravação da cena (Araucária, PR). Teria sido eles os artífices do vídeo viralizado? Ou eles apenas contribuíram com a emissora na descoberta do verdadeiro local de gravação da farsa?

No final da matéria, o programa de televisão traz ainda a fala do diretor da Secretaria Municipal de Segurança Pública de Araucária, Lineu Gremski, prometendo que o caso será investigado, considerando que "o fato" (a gravação dos supostos fenômenos sobrenaturais) teria ocorrido em horário de serviço (provavelmente, mesmo abandonada, a escola deve ser vigiada por funcionários municipais). Em seu depoimento ao Fantástico, Gramski parece não estar convencido da apuração feita pela reportagem. "É um mistério", alega ele. Antes de findar a reportagem, o Fantástico não esquece de mencionar outro vídeo postado na internet, também do Município de Araucária, com uma porta batendo, e levanta a suspeita se não seria a "mesma turma" de falsários, ou se seria o "mesmo fantasma" brincando de assustar a cidade.


Do charlatanismo e do embuste, por Allan Kardec

Especulações sobre fenômenos paranormais — errônea e vulgarmente denominados "fenômenos espíritas" — fazem parte do imaginário popular. O gosto pelo sobrenatural é uma característica humana, dizem os estudiosos do comportamento humano, e no Brasil, talvez mais do que em qualquer outro lugar no mundo, é um traço saliente do folclore local, como bem acentua a historiadora Mary Del Priore em seu livro "Do Outro Lado - A História do Sobrenatural e do Espiritismo" (veja resenha aqui).

Entretanto, é válido questionarmos qual a real contribuição — ou prejuízo — dessas especulações para a questão espiritual e, no nosso caso, para a Doutrina Espírita?

Foi pensando nessa hipótese que o Codificador do Espiritismo, Allan Kardec, perspicaz como sempre, dedicou a esse tema um capítulo inteiro em O Livro dos Médiuns, intitulado "Do charlatanismo e do embuste" (capítulo XXVIII). Nele, o codificador trata exatamente dos dois recursos (charlatanismo e embuste), também muito em voga no seu tempo, considerando-os graves entraves ao progresso do Espiritismo.
Por essa razão, convém que compreendamos bem esses dois elementos.

Segundo o Dicionário Houaiss, charlatanismo significa "exploração da credulidade pública, inculcando ou anunciando cura por meio secreto ou infalível". Na Wikipédia, encontramos: Charlatanismo é a prática do charlatão, palavra que deriva do italiano ciarlatano, que seria, segundo alguns, corruptela de cerretano (ou seja, natural de ou oriundo de Cerreto, vila situada na Umbria, Itália), e segundo a maioria, derivada de ciarla, ciarlare (de "falar", "conversar", neste caso seria equivalente, em português, a "parlapatão"  pois denota o uso da palavra para ludibriar outrem. Em outros idiomas o charlatanismo adquire a acepção de exercício ilegal da medicina, ao passo que em português tem significado comum de vendedor de substâncias pretensamente medicinais, curativas, que apregoa com vantagens, daí a nome curandeirismo. Em sentido geral e vulgar, portanto, os termos "charlatanismo" e curandeirismo fundem-se e podem ser definidos como toda prática pseudocientífica, apregoada por alguém com vantagens fraudulentas, pecuniárias ou não, ludibriando a outros  isso é, oferecendo algo vantajoso sem realmente ser. É nesse linha que Kardec ataca os "médiuns interesseiros", ressaltando que a verdadeira mediunidade se fortalece no serviço da caridade pela máxima do Cristo "Dai de graça o que de graça recebeste" (ver O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XXVI).

Já o termo embuste, segundo o Houaiss, quer dizer "mentira ardilosa; logro, embustice, embusteirice". A Wikipédia descreve o embuste da mesma forma — enganação, fraude — mas define que os interesses se diferem do charlatanismo (que claramente tem como motivação interesses pessoais, materiais ou regalias em geral), aproximando-se mais do trote (brincadeira de enganar) e da trapaça (no jogo). Kardec toma o embuste como fraude, sem retirar o interesse, pois, em seu tempo, havia muitos prestidigitadores, ilusionistas, falsários, que simulavam manifestações físicas em espetáculos, pelos quais recebiam cachê, como um artista qualquer. Importante lembrar que muitos médiuns autênticos igualmente vendiam shows. Daí, inclusive, nasceu uma tendência perigosa: de acrescentar números falsos a fenômenos verdadeiros, para "incrementar" o show.

Quanto a isso, é bom trazer à memória o caso das Irmãs Fox — as pioneiras do movimento revolucionário chamado Moderno Espiritualismo. Não há desconfianças — exceto por parte dos mais céticos — da veracidade dos históricos fenômenos em sua casa, em Hydesville, (Estado de Nova York, EUA). Porém, sabe-se que posteriormente, Maggie e Kate foram agenciadas para dar espetáculos na Europa e, em dado momento, elas participaram de números falsificados (ver em A História do Espiritualismo, de Arthur Conan Doyle).


Maggie e Kate Fox

Pelo fato de muitos embusteiros terem sido flagrados escamoteando o público com imitações de fenômenos sobrenaturais, a própria mediunidade foi alvejada, especialmente pelos materialistas declarados e os adversários do Espiritismo, como bem anota Kardec: "Os que não admitem a realidade das manifestações físicas geralmente atribuem os efeitos produzidos à fraude. Fundam-se em que os prestidigitadores hábeis fazem coisas que parecem prodígios, para quem não conhece seus segredos; donde concluem que os médiuns não passam de escamoteadores...", que então contrapõe: "há uma consideração que não escapará a quem quer que reflita um pouco. Sem dúvida, existem prestidigitadores de prodigiosa habilidade, mas são raros. Se todos os médiuns praticassem a escamoteação, seria preciso reconhecer que esta arte fez em pouco tempo incríveis progressos e se tornou de súbito muito comum, apresentando-se instintivamente em pessoas que dela nem suspeitavam e até em crianças." (O Livro dos Médiuns, cap. XXVIII, ITEM 314).

Portanto, o codificador reconhece a existência do embuste no movimento espiritualista então, da fraude mediúnica (a exemplo de charlatanismo no meio científico), mas ressalta que, fora estes casos — que, por sinal, ele considera fossem raros — a faculdade mediúnica e o fenômeno paranormal anímico são absolutamente recursos verdadeiros e naturais, pois que há Espíritos (os seres inteligentes desencarnados) e há o intercâmbio deles com a humanidade encarnada, conforme as leis da Natureza instituída por Deus, como recurso válido e fundamental para o desenvolvimento espiritual da Terra.

Na sequência do referido capítulo, em O Livro dos Médiuns, o codificador espírita ressalta ainda quem são as pessoas mais fáceis de serem enganadas: "Em tudo, as pessoas mais facilmente enganáveis são as que não pertencem ao ramo. O mesmo se dá com o Espiritismo. As que não o conhecem se deixam facilmente iludir pelas aparências, ao passo que um prévio estudo atento as inicia, não só nas causas dos fenômenos, como também nas condições normais em que eles costumam se produzir e lhes assim propicia os meios de descobrirem a fraude — se ela existir.O antídoto para não ser enganado é justamente o conhecimento do mecanismo espiritual — anímico e mediúnico. E quem, além da Doutrina Espírita, poderia nos oferecer essa garantia?




O prejuízo da farsa

Quando um embusteiro é desmascarado o estrago é grande, porque o escândalo não é desprezado pelos antipáticos à causa espírita. Quando se trata de um aventureiro qualquer, que é reconhecidamente alguém que sai por aí vendendo espetáculo, ainda assim o prejuízo pode ser grande. Contudo, pior mesmo é quando o trapaceiro é de casa. Por isso, Kardec era rigorosíssimo com os médiuns que ofereciam seus serviços aos círculos espíritas e muita pouca importância dava ao fenômeno em si — exemplo nem sempre observado pelos dirigentes das casas espíritas em nossa atualidade.

Eis o exemplo kardequiano: "Certo dia, um intelectual bastante conhecido veio ter conosco e nos disse que era muito bom médium escrevente intuitivo e que se colocava à disposição da Sociedade Espírita. Como temos por hábito não admitir na Sociedade senão médiuns cujas faculdades nos são conhecidas, pedimos ao nosso visitante que quisesse dar antes provas de sua aptidão numa reunião particular. Ele realmente compareceu a esta, na qual muitos médiuns experimentados deram ou dissertações, ou respostas de notável precisão, sobre questões propostas e assuntos que lhes eram desconhecidos. Quando chegou a vez daquele senhor, ele escreveu algumas palavras insignificantes, disse que nesse dia estava indisposto e nunca mais o vimos. Achou sem dúvida que o papel de médium de efeitos inteligentes é mais difícil de representar do que o supôs." (O Livro dos Médiuns, cap. XXVIII, item 315).

Não a toa, ele reproduziu uma carta enviada por um dos assinantes da Revista Espírita, como alerta contra o embuste:

Paris, 21 de julho de 1861.
Senhor.
Podemos estar em desacordo sobre certos pontos e de perfeito acordo sobre outros. Acabo de ler, à página 213 do último número deste jornal, algumas reflexões acerca da fraude em matéria de experiências espiritualistas (ou espíritas), reflexões a que tenho a satisfação de me associar com todas as minhas forças. Aí, quaisquer dissidências a propósito de teorias e doutrinas desaparecem como por encanto.
Talvez não seja tão severo quanto o senhor, com relação aos médiuns que, sob forma digna e decente, aceitam um pagamento, como indenização do tempo que dedicam a experiências muitas vezes longas e fatigantes. Porém, tanto quanto o senhor — e ninguém o seria demais — sou rigoroso com relação aos que, em tal caso, suprem pelo embuste e pela fraude a falta ou a insuficiência dos resultados prometidos e esperados, quando se lhes oferece ocasião.
Quando se trata de fenômenos obtidos pela intervenção dos Espíritos, misturar o falso com o verdadeiro é simplesmente uma infâmia e haveria anulação do senso moral no médium que julgasse poder fazer isso sem escrúpulo. Conforme o observou com perfeita exatidão, é lançar a coisa em descrédito na consciência dos indecisos, desde que a fraude seja reconhecida. Acrescentarei que é comprometer do modo mais deplorável os homens honrados, que prestam aos médiuns o apoio desinteressado de seus conhecimentos e de suas luzes, que se constituem fiadores da boa-fé que neles deve existir e os patrocinam de alguma forma. É cometer para com eles uma verdadeira prevaricação.
Todo médium que fosse apanhado em manejos fraudulentos; que fosse apanhado com a boca na botija – para me servir de uma expressão um tanto trivial –, mereceria ser censurado por todos os espiritualistas ou espíritas do mundo, para os quais constituiria rigoroso dever desmascará-los ou infamá-los.
Se lhe for conveniente, Senhor, inserir estas breves linhas neste jornal, ficam elas à disposição.
Aceite-as!
         Mateus
Entramos então em delicados pontos: muitos principiantes espíritas almejam desavisadamente produzir fenômenos; dirigentes espíritas propagam a ideia de uma fácil iniciação à mediunidade e muitas casas oferecem cursos de formação de médiuns a torto e a direito, desconsiderando que as faculdades mediúnicas não são para todos; a supervalorização do fenômeno espiritual é ainda uma grande tentação no meio espírita e espiritualista.

Sobre isso, lemos Louis Neilmoris em Terapia Espírita, 1ª parte - Fundamentos espíritas, item "Mediunidade Espírita":
"É preciso pôr à prova médiuns e Espíritos. Assim o fez Kardec e assim recomenda a doutrina. A desatenção nesse ponto, mesmo sob o pretexto de não magoar ninguém — seja aos supostos médiuns, seja aos Espíritos —, enseja que a mediunidade e o Movimento Espírita caiam na banalização. Se a manifestação mediúnica não ficar bem caracterizada logo de pronto, que seja submetida a análises sérias até que seja concluída sua veracidade. E bem melhor será para o pseudomédium se convencer imediatamente que estava sendo iludido do que encher-se de fantasias."


Sobre os fraudadores

Outro ponto que comumente se põe em pauta é sobre as consequências para os falsários, charlatões e embusteiros. O que se reserva para estes?

Bem, não nos cabe condenar ninguém, mas é racional pensarmos que os prejuízos causados a uma nobre causa não podem deixar de ser reparados, embora não devamos nos esquecer do grau de culpabilidade. Há casos, como o da famosa brincadeira do copo, típica da fase infantil, em que impera mais o espírito de diversão e curiosidade. Podemos imaginar que muitos pseudomédiuns se deixam levar pelo desejo de pretenderem ser úteis e "importantes" e assim iludem a si mesmos de possíveis capacidades mediúnicas. Todavia, quando envolve interesse material, fazendo do embuste uma pseudoprofissão, ou quando há trote premeditadamente para lançar desconfiança à mediunidade e ao Espiritismo, aí supomos outro nível de gravidade.

Cena do filme Ghost

Brincar com Espíritos não é algo nada aconselhável. A primeira consequência lógica que nos parece ocasionar é a atração de Espíritos brincalhões. Não deixa de ser um ensaio para a mediunidade — só que para um tipo próximo da obsessão. No filme Ghost, por exemplo, temos a ilustração do caso da vigarista Oda May Brown (interpretada por Whoopi Goldberg), que se passa por médium para se sustentar e acaba atraindo a presença do Espírito Sam (Patrick Swayze), que passa a obsidiá-la até que ela faça uns "servicinhos" para ele.

Com a onda de "fazer ganhar a vida fácil como youtuber", é plausível considerarmos a hipótese de que o "fantasma do IML de Cuiabá" tenha sido criado por interesses materiais; de outra forma, tudo pode ter sido apenas um trote, uma brincadeira despretensiosa. Felizmente, pela velocidade dos coisas que se sucedem no mundo virtual, isso logo mais será esquecido — substituído por outro episódio sensacionalista — sem maiores sequelas. No entanto, a questão do charlatanismo e do embuste não deixa de ser grave e o Movimento Espírita precisa trabalhar para combater esses dois elementos corrosivos.

quinta-feira, 16 de março de 2017

Programa Evangelho no Lar Online


Nesta quinta-feira, às 20h (hora de Brasília), tem mais uma edição ao vivo do Programa Evangelho no Lar Onlineo nosso encontro familiar com Jesus e toda a espiritualidade, para um momento de reflexão, aprendizagem e confraternização espiritual em torno da Boa Nova trazida pelo Mestre de Nazaré, à luz do Espiritismo.

As videotransmissões são feitas ao vivo via YouTube e você pode acompanhá-las pelo link do YouTube Live, pela página inicial do nosso Portal Luz Espírita.

Participe conosco e nos ajude na divulgação.

quarta-feira, 15 de março de 2017

Novo livro na nossa Sala de Leitura: "Perispírito" de Zalmino Zimmermann


A nossa Sala de Leitura tem uma grande novidade. Acabamos de disponibilizar em formato digital PDF um dos grandes clássicos da Literatura Espírita, desses que mais estudiosos recomendam sem pestanejar: Perispírito, obra do saudoso Zalmino Zimmermann.

Confira a sinopse do livro:

Este clássico da literatura espírita é, sem dúvidas, uma das mais respeitadas fontes de estudo e pesquisa acerca desse elemento fundamental para a compreensão da vida e, especialmente, dos fenômenos espíritas: o perispírito.
Trata-se de um trabalho sério, profundo, de grande teor científico, com extensa bibliografia e índices que facilitam a consulta. 


Zalmino Zimmermann foi dirigente espírita, escritor, conferencista. Profundo conhecedor do Espiritismo. Magistrado aposentado, possuía formação nas áreas do Direito e da Psicologia e incursões em outros domínios. Exerceu as atividades de Juiz de Direito, Juiz Federal, Professor Titular da Faculdade de Direito e Professor Titular do Instituto de Psicologia da PUC-Campinas.

Trabalhador incansável na seara, foi fundador e presidente da Associação Brasileira dos Magistrados Espíritas – ABRAME. Figura entre os mais dedicados estudiosos espíritas.

Nesse importante resgate histórico, temos aquele notável confrade espírita palestrando justamente sobre o seu livro Perispírito.


Sem dúvida, este livro vem prestigiar e muito a Sala de Leitura do Portal Luz Espírita e você pode conferir esse precioso conteúdo clicando aqui.


Cadastro de eventos espíritas


Uma das novidades do nosso novo sistema web é a possibilidade de cadastramento informatizado de eventos espíritas, pelo qual, dirigentes de casas espíritas e promotores de eventos poderão preencher um formulário simples, com os dados do evento, inclusive enviar (quando houver) uma imagem do cartaz da atividade. O cadastro é salvo eletronicamente em nosso sistema e publicado no Portal Luz Espírita logo após a confirmação de um de nossos administradores.


Cadastrar um evento

Para fazer um cadastro, acesse a página Eventos Espíritas pelo menu principal do nosso Portal.


Na página referida, localize o quadro Publicar um evento e clique no botão Cadastrar.


Então um formulário é carregado.

Preencha esse formulário com os dados do evento, por exemplo: data, horário, local, endereço etc.

Para o horário do evento, você deve informar pelo menos o previsto para o início. Já o horário de encerramento é opcional.

Na descrição, informe o gênero do evento (palestra, seminário, curso, apresentação teatral etc.), o tema (da palestra, do treinamento ou apresentação artística) o nome dos protagonistas (palestrante, músico, grupo artístico etc.) e dados gerais, por exemplo, se há necessidade de pré-inscrição ou qualquer pré-requisito para o público.

Em Contatos e informações (opcional), você pode informar e-mail ou telefones da instituição que promove o evento, para que o público possa tirar dúvidas ou, quando necessário, fazer pré-inscrição para o evento. Portanto, essas informações serão publicadas no nosso Portal.

Logo mais, a pessoa que estiver cadastrando um evento deve informar seu nome e e-mail para que, caso seja preciso, a Equipe Luz Espírita possam entrar em contato, para confirmação ou correção de algum dado cadastrado. Essas informações não serão publicadas no Portal.

O formulário ainda oferece a opção de enviar um cartaz do evento. Para tanto, basta clicar em Escolher arquivo, carregar uma imagem do tipo JPG e, por fim, salvar o cadastro clicando no botão Enviar.

Feito isso, uma mensagem de confirmação é carregada.


Os eventos cadastrados e aprovados pela nossa equipe então são publicados em nosso Portal e demais mídias de divulgação do Movimento Espírita.

Ressaltamos que, assim como todos os serviços da Luz Espírita, esse trabalho de divulgação é totalmente gratuito.

Além disso, informamos que a responsabilidade pelos dados do evento é daquele que efetuou o cadastro. Assim sendo, para evitar transtornos para qualquer parte, é imprescindível certificar-se e informar os dados corretamente.



sexta-feira, 10 de março de 2017

Atividades cerebrais de um canadense morto desafia a Ciência


Site da revista Exame, da Editora Abril, publica matéria intrigante: "Pessoa tem ondas cerebrais 10 minutos após ser declarada morta", com um subtítulo não menos chamativo: "Os cientistas ainda não sabem como explicar o fenômeno".

A jornalista que assina a matéria, Marina Demartini, baseia-se num estudo científico publicado no The Canadian Journal of Neurological Sciences, que traz a anotação de que médicos canadenses presenciaram um "caso bizarro de vida após a morte", quando um paciente continuou a ter atividade cerebral durante mais de dez minutos depois de ter sido declarado morto.

Diz a matéria da Exame: "O indivíduo, que não teve seu nome revelado, teve seu suporte de vida desligado ao mesmo tempo que outras três pessoas. Os quatro pacientes foram considerados mortos pelos médicos, pois não tinham pulso e suas pupilas não respondiam ao estímulo luminoso. No entanto, um deles continuou a apresentar ondas cerebrais do tipo delta — similares às que temos durante o sono profundo."

A reportagem exibe ainda uma imagem com uma amostra de quatro eletroencefalogramas (EEG), um do tal "morto vivo" — cuja identidade não foi revelada — e de mais três pacientes, também falecidos. Nestes três, os "casos normais", o EEG deixou de registrar as ondas antes mesmo de o coração deles parar de bater, enquanto que no caso excepcional, as ondas continuaram se reproduzindo por precisamente 10 minutos e 38 segundos.


Os médicos também notaram que os registros eletroencefalográficos dos quatro pacientes mostraram poucas semelhanças antes e depois de eles terem sido declarados mortos. “Houve uma diferença significativa na amplitude do EEG entre o período de 30 minutos antes e cinco minutos após a pressão arterial cessar.”

Os cientistas não sabem explicar por que isso aconteceu. No entanto, eles se mantêm céticos com relação aos resultados, pois é uma amostra única. Além disso, os pesquisadores também não descartam a hipótese de que houve algum problema com a máquina que fez o exame – apesar de ele não ter mostrado sinais de funcionamento.


Incógnita científica

Lê-se nessa matéria: "Como existem poucos estudos sobre o funcionamento do cérebro após a morte, os médicos tentaram achar alguma relação entre o caso e um fenômeno chamado de 'ondas de morte'. O evento foi observado quando ratos, 50 segundos após serem decapitados, apresentaram uma rápida onda em seus cérebros. Isso pode sugerir que coração e cérebro seguem caminhos diferentes quando uma criatura falece. No entanto, os médicos não encontraram relação entre os casos da pessoa e do rato. 'Não observamos nenhuma onda delta dentro de um minuto após a parada cardíaca em qualquer um de nossos quatro pacientes', relatam no estudo."

E conclui a jornalista da revista Exame:

"Desse modo, ainda não há uma explicação para o novo fenômeno. Essa não é a primeira vez que cientistas não conseguem entender porque algumas partes do corpo reagem de certas maneiras após a morte. Uma pesquisa de 2016 revelou que mais de mil genes ainda funcionavam (e até aumentaram de atividade) vários dias depois do falecimento de pacientes."


Lógica espiritualista

Este é mais um caso concreto a corroborar a lógica espiritualista de que a essência da vida é um atributo da alma (Espírito) e não de um fenômeno material, como pretendem os materialistas. Se, com a falência orgânica, o corpo material ainda se manifesta, de uma forma qualquer, não sendo por si só, há de sê-lo por intermédio de uma força extrafísica – no caso, provavelmente, em função do desligamento incompleto do perispírito pertencente ao Espírito que havia encarnado naquele corpo. E dizemos "provavelmente", por haver ainda a possibilidade (se bem, muito pouco provável) de um Espírito – seja aquele recém-desencarnado, seja outro qualquer – ter provocado tal manifestação física naquele cadáver, assim como é possível um fenômeno físico de animação de qualquer objeto material (como as manifestações de mesas girantes).

Esta caso pode ser relatado como uma "prova concreta" da sobrevivência do Espírito?
Bem, é uma evidência forte, lógica e que racionalmente nos remete à admissão da tese espírita. Porém, o termo "prova" soa modernamente como que o termo "dogma" para a religião na Era Medieval. E, relembrando Allan Kardec, a "prova da espiritualidade" não é da alçada da ciência, como lemos na, sempre interessante, fala do Codificador ao analisar a relação entre Espiritismo e Ciência, conforme o item VII da "Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita", dentro de O Livro dos Espíritos:
Para muita gente, a oposição de cientistas — se não for uma prova —, pelo menos é forte opinião contrária. Não somos dos que se rebelam contra os sábios, pois não que nos digam que os afrontamos; ao contrário, temos grande consideração a eles e ficaríamos muito honrado se estivéssemos entre eles. Porém, suas opiniões não podem representar, em todas as circunstâncias, uma sentença irrevogável. 
Se a Ciência sai da observação material dos fatos, procurando analisar e explicar esses fatos, o campo está aberto às suposições; cada um imagina o seu pequeno sistema e se dispõe a sustentá-lo com fervor, para fazê-lo prevalecer. Todos os dias nós não vemos as opiniões mais diversas serem alternativamente aceitas e rejeitadas, ora rebatidas como erros absurdos, para logo depois aparecerem proclamadas como verdades incontestáveis? Os fatos são o verdadeiro critério da nossa consciência, o argumento sem contestação. Na ausência dos fatos, a dúvida se justifica no homem sensato.
Com relação às coisas inegáveis, a opinião dos sábios é autêntica e com toda razão, pois eles sabem mais e melhor do que o homem comum; mas na questão de novos princípios, de coisas desconhecidas, a opinião desses sábios é apenas mais uma suposição, por isso que — assim como os outros — eles estão sujeitos a preconceitos.
Direi mesmo que o sábio tem mais preconceitos que qualquer outro, porque uma inclinação natural o leva a colocar tudo sob o ponto de vista donde mais especializou seus conhecimentos: o matemático vê a prova unicamente dentro de uma demonstração algébrica, o químico refere tudo à ação dos elementos, etc. O especialista prende todas as suas ideias à disciplina que adotou. Fora da sua ciência, veremos o sábio quase sempre se desmoronar, por querer submeter tudo ao seu modo de ver as coisas: consequência da fraqueza humana. Assim, pois, de boa vontade e com toda confiança consultarei um químico sobre uma questão de composição de uma substância, um físico sobre a potência elétrica, um mecânico sobre uma força motora. Porém, eles deverão me permitir — sem que isto afete a admiração que merecem o seu saber especial — que eu não dê muito valor a suas opiniões negativas acerca do Espiritismo, como seria o parecer de um arquiteto sobre uma questão de música.
As ciências gerais se fundamentam nas propriedades da matéria, que se pode experimentar e manipular livremente; os fenômenos espíritas se apoiam na ação de inteligências dotadas de vontade própria e que nos provam a cada instante que não estão subordinadas aos nossos caprichos. Portanto, as observações não podem ser feitas da mesma forma; requerem condições especiais e outro ponto de partida. Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer semelhanças que não existem. A Ciência propriamente dita, como ciência, é incompetente para se pronunciar na questão do Espiritismo: não tem que se ocupar com isso e qualquer que seja o seu julgamento — favorável ou não — nenhum peso poderá ter. O Espiritismo é o resultado de uma convicção pessoal, que os sábios podem ter como indivíduos, independentemente da qualidade de sábios. Pretender submeter a questão à Ciência equivaleria a querer que a existência ou não da alma fosse decidida por uma assembleia de físicos ou de astrônomos. Sendo assim, o Espiritismo está todo na existência da alma e no seu estado depois da morte. Ora, é realmente ilógico imaginar que um homem deva ser grande psicologista, porque é ilustre matemático ou notável anatomista.
Investigando o corpo humano, o anatomista procura a alma, e como não a encontra pelo seu bisturi, como encontra um nervo, ou porque não a vê se mover como um gás, conclui que ela não existe, porque se coloca sob um ponto de vista exclusivamente material. Segue-se que tenha razão contra a opinião universal? Não! Vejam, portanto, que o Espiritismo não é da competência da Ciência. Quando a crença espírita tiver se espalhado, quando for aceita pela massa humana — e a julgar pela rapidez com que se propagam, esse tempo não está longe —, com ela se dará o que tem acontecido a todas as ideias novas que encontram oposição: os sábios se renderão à evidência. Lá chegarão, individualmente, pela força das coisas. Até então será inoportuno desviá-los de seus trabalhos especiais, para obrigá-los a se ocuparem com um assunto estranho, que não lhes está nem nas atribuições, nem no programa. Enquanto isso não ocorre, aqueles que, sem estudo prévio e aprofundado da matéria, optaram por negar e zombar de quem não lhes é a favor, esquecem que o mesmo se deu com a maior parte das grandes descobertas que honram a Humanidade.
Eles se expõem a ver seus nomes aumentando a lista dos ilustres contestadores das ideias novas e inscritos ao lado dos membros da assembleia culta que, em 1752, recebeu com estrondosa gargalhada a memória de Franklin9 sobre os para-raios, julgando-o indigno de figurar entre as comunicações que lhe eram dirigidas; e daquele outro que fez a França perder as vantagens da iniciativa da marinha a vapor, declarando que o sistema de Fulton um sonho impossível. Entretanto, essas eram questões da alçada daquelas reuniões. Ora, se tais assembleias, que contavam com os maiores sábios do mundo, só tiveram a zombaria e o sarcasmo para ideias que elas não percebiam, ideias que, alguns anos mais tarde, revolucionaram a ciência, os costumes e a indústria, como esperar hoje um melhor acolhimento da parte deles de uma questão estranha aos seus trabalhos habituais?
Esses erros lamentáveis de alguns homens notáveis, que envergonham a memória deles, de nenhum modo tiram os títulos conquistaram em outros respeitos campos; mas é preciso ter um diploma oficial para se ter bom-senso? Será que fora das cadeiras acadêmicas só encontramos tolos e imbecis? Observem os adeptos da Doutrina Espírita e digam se só encontramos ignorantes e se a imensa legião de homens de mérito que a abraçaram dá razão que seja ela igualada às crendices populares. O caráter e o saber desses homens dão peso a esta doutrina: pois se eles afirmam, é preciso reconhecer que há alguma coisa.
Repetimos mais uma vez que, se os fatos a que referimos estivessem reduzido ao movimento mecânico dos corpos, a questão da causa física desse fenômeno caberia no domínio da Ciência; porém, quando se trata de uma manifestação que se produz com exclusão das leis da Humanidade, ela fica fora da competência da ciência material, pois não pode ser explicada por algarismos, nem por uma força mecânica. Quando surge um fato novo, que não guarda relação com alguma ciência conhecida, para estudá-lo, o sábio tem que se despojar da sua ciência e dizer a si mesmo que o que se lhe oferece é um novo estudo, impossível de ser feito com ideias preconcebidas.
O homem que se julga infalível está bem perto do erro. Mesmo aqueles, cujas ideias são as mais falsas, se apoiam na sua própria razão e é por isso que rejeitam tudo o que lhes parece impossível. Aqueles que em outro momento rebateram as descobertas admiráveis de que hoje a Humanidade se honra faziam apelos à razão para rejeitá-las.
Muitas vezes, o que se chama razão não passa de orgulho disfarçado e quem quer que se considere infalível apresenta-se como igual a Deus. Então, vamos nos dirigir aos prudentes, que duvidam do que não viram, mas que, julgando o passado pelo futuro, não acreditam que o homem tenha chegado ao auge, nem que a Natureza tenha mostrado a eles a última página do seu livro.
Fica claro assim que o Espiritismo não depende da sanção da ciência, pois a doutrina se funda nas leis naturais, instituídas por Deus – e, portanto, no que se convencionou chamar de "verdade" – que é para onde a Ciência deve caminhar, independentemente do caminho seguido pelo Espiritismo. Nossa convicção, como espíritas, é que, um dia, inexoravelmente, ambos – Ciência e Filosofia Espírita – convergirão para a mesma fonte da verdade: Deus e a espiritualidade.

Mas convém anotar aqui a importância de ocorrências como essa – postada como mais de natureza científica do que mística ou religiosa – ganhe espaço na mídia atual, cuja predominância é coisas do ramo da tecnologia, das celebridades, esportes, violência, apelo sexual e consumista – inclusive, porque a mencionada revista, Exame, é voltada para assuntos de economia e consumo.

E finalizamos com um apelo: que possamos dar mais audiência em notícias científicas, educativas e espíritas.