terça-feira, 7 de março de 2017

Madame Kardec e o Dia Internacional da Mulher


O ensejo do Dia Internacional da Mulher, neste 8 de março, anima-nos ao resgate histórico do papel da mais importante mulher para o Espiritismo, Amélie-Gabriele Boudet — a Madame Kardec.

A ideia original para a instituição desta data comemorativa era o de fazer lembrar as mulheres no final do século XIX e sua luta por melhores condições de vida, de trabalho (foi nessa época que se deu a expansão da mão de obra feminina nas grandes indústrias) e engajamento social (especialmente o direito de voto, nas repúblicas democráticas). Esse o genuíno movimento feministaEm apoio a essas ideias de igualdade e integridade social o Espiritismo surge como a primeira doutrina a defender fundamentalmente à causa das mulheres — sem qualquer detrimento à comunidade masculina ou à ordem social, como comumente se vê hoje em dia com os movimentos feministas modernos.

Para ilustrar bem esse fundamento espírita de igualdade de valor entre homens e mulheres  respeitada as particularidades fisiológicas e psicológicas dos gêneros enquanto no curso evolutivo, enquanto em voga o princípio da reencarnação) —, resgatamos a fala de Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1866, sob o título questionador: "As mulheres têm alma?". Neste artigo, lemos o codificador dizer:
"Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; não é mais uma concessão da força à fraqueza, mas é um direito alicerçado nas próprias leis da Natureza. Dando a conhecer estas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, assim como abre a da igualdade e da fraternidade."
Allan Kardec (Revista Espírita, janeiro de 1866: "As mulheres têm alma?") 
E dentro do cenário espírita inaugural, vamos nos deparar já na base, no processo de codificação da doutrina, a mão forte de uma grande mulher: a pedagogo e artista Amélie Boudet, mais tarde, esposa do codificador espírita, Allan Kardec, que, sob a coordenação da Espiritualidade Maior, prescindiu daquela primeira heroína da Doutrina para a consumação de sua obra. O papel da Senhora Kardec na fundamentação do Espiritismo é muito maior do que comumente os confrades espíritas supõem.

Na verdade, é quase um anonimato, em comparação ao que realmente Amélie Boudet vale para a doutrina. Nas descrições mais comuns, ela é apontada como alguém que simplesmente "bancou" os custos da publicação de O Livro dos Espíritos — o que é um reducionismo e uma grande injustiça.

A biografia da primeira-dama do Espiritismo é muito maior do que se pensa, a começar pelas suas qualidades intelectuais e morais. Basta inicialmente mencionar que, juntamente com o professor Rivail, ela foi uma grande ativista em prol do reconhecimento da importância da Educação para a promoção do meio social e pela democratização do ensino escolar. O casal, levando a efeito suas ideias revolucionários, chegou a fazer de sua residência um instituto de ciências, lecionando aulas gratuitas para a comunidade carente de Paris.


Importante destacar ainda a atuação desta memorável lutadora após a desencarnação de seu esposo. É um capítulo todo especial na História do Espiritismo, que pode melhor ser explorada através do resgato feito pelo escritor Adriano Calsone, conforme seu livro Madame Kardec - a história que o tempo quase apagou, publicado pela Editora VivaLuz.

Dentro de seus achados históricos, Calsone conta em sua obra que a viúva Kardec sofreu muito preconceito por ser mulher, uma artista e uma personalidade liberal — uma mulher muito à frente de seu tempo. O autor ainda ressalta, com base nos dados garimpados, que ela era inteligente, lúcida e ativa no Movimento Espírita, "uma pioneira do que hoje conhecemos por comunicação social espírita". Mas ela penou uma grande decepção: dado sua avançada idade, precisou eleger um mandatário para tocar a livraria espírita e a publicação da Revista Espírita; exatamente esse mandatário, Pierre-Gäetan Leymarie, iria se tornar um grande algoz, não apenas da viúva Kardec, mas também da própria Doutrina Espírita.


Assim sendo, temos aqui um belo programa para comemorarmos mais uma edição do Dia Internacional da Mulher: conhecendo e valorizando a vida e a obra de uma grande e verdadeira feminista.

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