quinta-feira, 29 de março de 2018

Papa Francisco afirma que "inferno não existe" — ou não disse?


A cúpula do Vaticano — bem como os católicos ortodoxos ao redor do mundo — estão cada dia mais apavorados com o comportamento do papa Francisco, o novo papa pop (o primeiro foi João Paulo II). Seu jeito de ser "simples" irrita os mais conservadores, para quem o sumo pontífice deve seguir o protocolo portando-se com o cerimonialismo que o cargo exige. Mas não é só isso.

A polêmica da vez é uma suposta declaração de Francisco sobre uma questão teológica espinhenta: "o inferno não existe" — teria dito ele, segundo uma entrevista publicada nesta quinta-feira pelo jornal italiano La Repubblica. O Vaticano desmente a afirmação.

Segundo o referido periódico, em entrevista a Eugenio Scalfari, fundador e ex-editor-chefe do jornal romano, o chefe da Igreja Católica teria declarado: "O inferno não existe, o desaparecimento das almas dos pecadores existe". O artigo só pode ser lido na internet por assinantes, mas foi repercutido pelo inglês The Times.

Em nota, o Vaticano afirma que Francisco recebeu o jornalista em um "encontro privado por ocasião da Páscoa", mas que a audiência não se tratava de uma entrevista. Diz também que as falas do papa são uma "reconstrução" do repórter. "Nenhuma aspa do artigo mencionado deve ser considerada, portanto, como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre", diz o comunicado.

Scalfari, que se declara ateu, já teve outros encontros com o papa Francisco. Em setembro de 2013, o próprio pontífice escreveu uma carta ao jornal, respondendo a um artigo de Scalfari, na qual fala sobre a relação da igreja com os "não crentes".

"Deus perdoa quem segue a própria consciência", disse o papa na época, sobre os ateus.

A nota oficial do Vaticano é esta:
"O Santo Padre Francisco recebeu recentemente o fundador do jornal La Repubblica em uma reunião privada por ocasião da Páscoa, sem lhe dar nenhuma entrevista. O que é relatado pelo autor no artigo de hoje é o resultado de sua reconstrução, em que as palavras textuais pronunciadas pelo Papa não são citadas. Nenhuma aspa do artigo mencionado deve ser considerada, portanto, como uma transcrição fiel das palavras do Santo Padre."
Especula-se largamente que, de fato, Francisco não acredita no inferno — e talvez em muitos outros conceitos doutrinários do catecismo católico. Vez ou outra circulam citações polêmicas em seu nome e é inegável que se trata de um papa bem liberal, muito acima da tradição da igreja romana. E considerando que seu antecessor (papa Bento XVI) era ultraconservador, vê-se então um choque cultural jamais imaginado. 

As opiniões pessoais de Francisco distam bastante do convencional construído até então pelo alto clero católico. Com isso, muitos estudiosos que acompanham o dia a dia do Vaticano levantam a questão: a pessoa do papa tem o direito de expor ideias particulares quando elas, no mínimo, são teologicamente duvidosas conforme a tradição católica?

Se o papa Francisco acredita ou não no inferno, isso não tem maiores implicações, já que a estrutura da Igreja Católica é bem rígida e oferece pouca expectativa de uma "revisão teológica". Ou seja, não é de se esperar para tão breve um concílio que altere a disposição catequética atual do Vaticano quanto ao conceito do inferno. Em geral, a igreja atual sempre muito atrasada acerca de novas proposições. A admissão do erro da teoria do geocentrismo, por exemplo, custou séculos, mesmo depois de fartamente demonstrada pela ciência.

Até que a igreja admita que leis naturais tão lógicas e evidentes como a reencarnação e a progressão espiritual pós-morte, muitos fieis ainda sofrerão psicologicamente com o temor das chamas do inferno. Contudo, o papa Francisco não deixa de ser uma rachadura — ainda que pequena — no já envelhecido alicerce do catolicismo, uma brecha aberta para o alerta de uma iminente reforma que, cedo ou tarde, o Vaticano se verá forçado a fazer.

Logicamente que o fato de a Igreja aceitar ou não uma verdade não determina que essa verdade exista ou não, pois a natureza superior não precisa da sanção do homem e das instituições terrenas para estabelecer as coisas: é Deus quem estabelece o que é ou não verdade. Todavia, pela influência que tem, o catolicismo, em reformulando suas concepções, muito pode contribuir com o avanço espiritual do nosso planeta, assim como as ciências regulares. Quando o micromundo das bactérias e seus efeitos nocivos foram revelados cientificamente, uma nova cultura de higiene e outros meios de prevenção se estabeleceram e muitas afecções e doenças simples deixaram de ceifar vidas e vidas como noutros tempos. Assim sendo, quanto a humanidade não poderia evoluir mais rapidamente se a ciência e a igreja se juntassem ao Espiritismo na propagação das verdades espirituais!

Fonte G1

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